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Voltar16/12/2021
E é chegado aquele momento em que você entra no escritório – caso já tenha saído do home office – e se depara com a cesta de Natal da firma, repleta de guloseimas e um cartão com mensagens de amor e paz a todos os colaboradores. E quem é uma das principais estrelas da cesta? Ele mesmo, o panetone. Figurinha carimbada em todas as ceias, o panetone é o Natal em forma de pão. O seu aroma característico nos remete imediatamente ao dezembro de todos nós: o chester assando, os Papais Noéis gordos – e alguns magros – na frente das lojas de rua nos convidando a entrar na esperança que deixemos alguns vinténs por lá em troca de lembranças para parentes ou amigos secretos, as casas e edifícios da vizinhança decorados com luzinhas piscantes, estacionamentos de shoppings abarrotados e as músicas cheias de blim-blom que parecem emanar de todas as paredes do planeta. Mas de onde veio, afinal, o panetone?
Na Milão do final do século XV, a família Sforza recebia convidados para um jantar natalino. Sobre a mesa, um desfile de receitas espetaculares, cada prato mais gostoso do que o outro (qualquer semelhança com o que você encontra aqui na Tarimba na Cozinha é mera coincidência). Enquanto isso, na cozinha, o cozinheiro-chefe assava biscoitos. Precisou sair por alguns instantes e pediu para um de seus auxiliares, chamado Toni, que vigiasse o forno para que a sobremesa, que era esperada com grande ansiedade pelos convidados do rega-bofe e pelos anfitriões, saísse perfeita. Porém o Toni, já exausto, pegou no sono e quando acordou os biscoitos haviam queimado. Desesperado, Toni improvisou uma nova receita, misturando a massa para fermento que tinha reservado para o pão de Natal com ovo, açúcar e passas. Colocou no forno e depois de assado foi servido no banquete. Um sucesso! Ludovico Sforza batiza a iguaria como “pão Toni” em homenagem ao seu criador. O que acabou evoluindo para panetone. Uma bela história, que também não passa de uma bela invenção de alguma imaginação fértil, segundo o professor de história da alimentação da Universidade de Bologna, Massimo Montanari. Segundo ele, o panetone não tem uma data certa de origem, sendo uma espécie de criação coletiva que vem dos pães doces das festas natalinas.
O panetone ultrapassou a fronteira italiana no início do século XX, tomando de assalto as festas natalinas de toda a Europa. Tudo graças a um padeiro milanês chamado Angelo Motta, que adicionou levedura à receita já tradicional e embrulhou a massa em um papel manteiga especial. Em 1925 a receita de Motta é adaptada por outro padeiro, Gioacchin Alemagna, e foi através da competição ferrenha entre eles que a produção de panetone passou a ser industrializada. O panetone desembarcou na América pelas mãos dos imigrantes que vieram da Itália e rapidamente caiu no gosto das populações locais. Um desses imigrantes, chamado Pedro D’Onofrio, desembarcou no Peru e nos anos 50 fez um acordo com a Alemagna – sim, marca de panetones italiana daquele padeiro que falamos mais acima – para produção dos panetones D’Onofrio neste país sul-americano. Por incrível que possa parecer, o Peru é o segundo país do mundo no consumo de panetones, com 1,1 kg por habitante/ano, ficando atrás, por óbvio, da Itália, deixando o Brasil em terceiro lugar. O pioneiro na produção de panetones por aqui foi outro imigrante italiano, Carlo Bauducco, que em 1952 fundou, em São Paulo, a sua fábrica de panetones que hoje tem por volta de 6 mil funcionários, produzindo mais de 300 mil toneladas anuais em suas unidades no Brasil e nos Estados Unidos.
Como você ja sabe, o nome panetone
não tem nada a ver com uma corruptela da expressão pão do Toni. Suspeita-se que
ele derive da palavra panattón, um vocábulo milanês que até hoje ninguém bate o
martelo sobre o que realmente signifique. Outra teoria nos leva a suspeitar de
que a palavra seja a união de panetto (pão pequeno) com panone (pão grande), o
que em tradução livre para o português seria “pãozinhão”. O que realmente
dá pra bater o martelo é que o panetone é um verdadeiro sucesso, sem precedentes,
em todas as suas versões:
chocotone, sorvetone e colomba pascal. Variantes que atendem aos mais
diversos paladares espalhados pelo globo. Olha, eu não sei quanto a vocês, mas
agora me deu vontade de comer um panetone. Vou digitar lá na barra de procura pra
pegar a receita aqui na Tarimba na Cozinha. Eu aconselho vocês a fazerem o
mesmo.
Sobre o autor: Fábio Victória é publicitário e
cronista.
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