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Voltar21/06/2023
Seguindo a proposta de usar o Blog dos Tarimbados
também como uma ferramenta de informação complementar às técnicas propostas em
nossas receitas, nesse artigo vamos mostrar o passo a passo da preparação de
uma das massas mais admiradas e, porque não dizer, sofisticadas da culinária
moderna: a massa folhada.
Porém, antes de
entrarmos no passo a passo da elaboração dessa iguaria, acho importante falarmos
um pouco sobre a origem dessa massa não fermentada, tão apreciada pela sua
textura leve e quebradiça, e de sabor inconfundível.
Bem, mas fato é
que essa não é uma tarefa fácil, pois assim como muitas outras preparações
culinárias hoje renomadas, a massa folhada não tem uma origem clara e precisa.
Lembram da história sobre as origens do panetone já abordada aqui em nosso blog?
Pois bem, a história da massa folhada é ainda mais confusa, pois são muitas as suas
versões.
Fala-se que os
Egípcios, ou talvez os Gregos, a teriam criado, ou pelo menos uma versão
ancestral dela, visto que, pelo que se sabe, naquela época o que se fazia eram
preparações que utilizavam camadas sobrepostas
de massas, pinceladas com alguma gordura ou azeite, alternando-as com frutas secas,
amêndoas e pistaches, finalizadas com uma cobertura de mel quente (parece
saboroso, não?). Essa descrição se
parece muito com a atual baklava, uma receita muito disseminada ao longo de
séculos no Império Otomano, e que hoje possui diversas versões e nomes
diferentes em toda a região dos Balcãs (Eslovênia, Sérvia, Croácia, Bósnia
Herzegovina, Albânia, Montenegro, Kosovo, Bulgária, Romênia, Turquia e Grécia).
Em relação às baklavas, vale destacar que atualmente são feitas de massa filo,
de aspecto folhado e quebradiço como a nossa massa folhada tradicional, porém
uma receita bem distinta.
E ao que tudo
indica a história, foram os Cruzados, os grandes combatentes dos Otomanos, que
trouxeram a preparação para a Europa, onde em 1311 são citados pela primeira
vez os “gâteaux feuilletés” (bolos folhados) em documentos de um bispo chamado
Robert, de Amiens, na França. E foi também na França que surgiu o “mil-folhas”,
servido pela primeira vez na Pâtisserie Seugnot, na Rue de Bac, Paris, em 1867.
Vejam só, a
culinária, como de costume, cruzando barreiras religiosas sem nenhum pudor!
Dois séculos
depois, em 1525, tivemos o primeiro registro do termo “pasta sfoglia” (massa
folhada, em italiano) em um documento oficial do Conselho de Veneza.
E pra
finalizar, há também os registros e créditos dados aos espanhóis e suas
maravilhosas massas folhadas, como os do Chef e Professor francês Henri-Paul
Pellaprat, um dos fundadores da Escola Le Cordon Bleu. Em relação aos
espanhóis, a tese é que teriam aprendido e melhorado a receita que conheceram com
os Mouros, com os quais tiveram muito contato e influência nos séculos VII ao
XV. Quanto a essas receitas, há que se destacar que originalmente mais se
assemelhavam àquelas feitas a partir da sobreposição de camadas de massa,
pinceladas, nesse caso, com banha de porco ou azeite.
Ah! Quase ia
esquecendo! Tivemos ainda o tal pintor francês Claude Gellée (o sobrenome é
sugestivo não acham?), a quem muitos atribuem a criação, de fato, da versão
moderna da massa folhada, numa receita que ele criou para seu pai. Segundo a
história, M. Gellée teria descoberto acidentalmente a receita tentando
desenvolver um novo tipo de pão, o qual dobrou e amassou muitas vezes na
tentativa de incorporar uma grande quantidade de manteiga gelada que havia
propositalmente incorporado à massa. Daí ter nascido o ¨pão assado com
manteiga¨ que depois, dada a sua
aparência, passou a se chamar bolo folhado e mais à frente, massa folhada.
Enfim, essas
são apenas algumas rápidas citações de uma história longa e cheia de contradições
sobre as origens de uma preparação que hoje não deixa dúvidas quanto à sua
crocância e sabor inigualáveis.
Nossa receita de massa folhada está disponível aqui na plataforma, portanto, não vamos
repeti-la no blog. O que vamos fazer na verdade é detalhar, de forma ilustrada,
sua técnica de preparo para que não fiquem dúvidas.
Então vamos lá.
Passo 1
Depois de preparar a chamada détrempe, como é conhecida pelos franceses a sua massa básica, constituída apenas por farinha, água gelada, sal e, em alguns casos, também açúcar, a gente chega a esse ponto da imagem abaixo: uma bola de massa que depois de repousar por 20 a 30 minutos é ligeiramente espichada para facilitar o seu processo de abertura com o rolo.
Passo 2
Uma vez aberta
até uma espessura de 5 a 7 mm, é chegada a hora da incorporação da gordura,
preferencialmente manteiga de boa qualidade, ou seja, com pouco ou nenhum resquício
de leite.
Aqui, um ponto
de atenção importante dessa preparação: a manteiga deve estar com uma
consistência igual ou ligeiramente mais macia que a da massa, para que não
ofereça nenhuma resistência a essa quando for pressionada pelo rolo, formando
naturalmente uma camada entre a massa.
Envelope a manteiga conforme é demonstrado nas imagens abaixo.
Observação: muitos optam por amassar parcialmente o bloco de manteiga antes de incorporá-lo à massa. Se for usar essa técnica, faça-a diretamente sobre a mesa de trabalho, isolando a manteiga com papel-filme por cima e por baixo, para que não grude nem no rolo e nem na mesa. Depois coloque-a sobre a massa e proceda como descrito acima.
Passo 3
Abra a massa com cuidado formando uma faixa com o comprimento 3 x maior que a largura.
Passo 4
Faça a primeira dobra dupla, ou seja, dobre o primeiro terço da massa sobre ela mesma, e depois o outro terço sobre os dois conforme demonstrado na imagem abaixo.
Passo 5
Gire a massa um quarto de volta, de forma que as dobras fiquem no sentido vertical, como na imagem abaixo. Na sequência, repita os passos 3 e 4 novamente.
Passo 6
Repita o passo 5 novamente, fechando assim a terceira série de dobras duplas. Após, deixe a massa descansar na geladeira por 20 minutos.
Passo 7
Repita a série de 3 dobras duplas conforme os passos 4, 5 e 6 novamente. Ao final a massa terá sido dobrada 6 vezes e estará então pronta para uso.
Como se pode
perceber, a preparação da massa folhada não é difícil, mas sem dúvida muito
trabalhosa; portanto, quando for fazer essa massa, faça em maior quantidade,
pois ela pode muito bem ser fracionada e o que você não usar no momento pode
guardar no freezer e congelar para usar em outras preparações.
Espero que esse artigo e esse passo a passo tenham sido úteis a você.
Abraço
tarimbado!
Equipe Técnica da
Tarimba na Cozinha.
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Imagem de capa:
BMK Wikimedia, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0
, via Wikimedia Commons