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Voltar07/09/2021
Considerado
o primeiro livro de receitas do mundo ocidental, De Re Coquinaria, Ars
Magirica, ou Apicius Culinaris foi uma espécie de apostila, na qual o romano
Marcus Gavius Apicius (25a.C. a 37d.C.) – ou pelo menos se imagina que tenha
sido ele – reuniu suas receitas e ensinamentos sobre a arte e as técnicas de
preparações culinárias e de preservação dos alimentos.
O livro é um
bom exemplo no qual a culinária mostra a História, pois foi também a partir do
livro que pesquisadores e estudiosos conseguiram identificar e compreender diversos
aspectos da vida cotidiana da Roma Antiga.
Como disse em
meu texto anterior, a Culinária e a História andam de mãos dadas, e no caso do
De Re Coquinaria acho que cabe dizer que a História “se alimentou” da
Culinária.
Na verdade,
a versão original de Apicius não existe mais. O que se tem hoje deve-se ao
trabalho dos monges do Mosteiro de Fulda, na Alemanha, que organizaram (séc.
VIII e IX) os manuscritos existentes na época e depois o editaram (séc. XI).
A versão
mais antiga do manuscrito que serviu de base para o trabalho dos monges
alemães, elaborada por autor desconhecido no século IV, pode ser vista na Biblioteca
do Vaticano, uma das mais antigas do mundo, fundada por Nicolau V (1448) e
funcionando no Salão Sistino desde o final do século XVI. O espaço abriga pinturas
renascentistas e cerca de dois milhões de obras raras. Estão lá os manuscritos
das primeiras bíblias, bilhetes de Michelangelo e da Vinci, a capa que
Botticelli fez para a Divina Comédia de Dante, e também o citado manuscrito original
do livro de Apicius. Local do mais alto destaque para a Culinária, não acham?
Em tese, Apicius
teria escrito inicialmente dois livros: um tratando de receitas em geral, e
outro focado exclusivamente em molhos. Vejam só, os molhos sempre recebendo
destaque! Esses livros, disseminados e utilizados em todas as cozinhas da Roma
Antiga, continham inclusive ilustrações, o que é possível comprovar por
citações sobre elas em alguns trechos do manuscrito. Com o tempo, e como em
qualquer outra época, seu conteúdo foi ganhando vida própria e as receitas
foram recebendo contribuições de outros cozinheiros da época, muitos deles escravos
de origem grega, o que explica a existência de alguns termos utilizados em
certas receitas. Todavia, versões dessa época não existem mais, e o que se tem mesmo
de mais original é a versão escrita no final do século IV, já com a formatação
atual, composta por 10 livros (capítulos) distintos.
Fato é que a
partir do livro é possível saber o que e como comiam os romanos, ou pelo menos
os mais ricos, os que tinham acesso à carne, geralmente de carneiro, burro,
porco, ganso, pato ou pombo. Soube-se também que os romanos alimentavam seus
porcos com figos, para que sua carne ficasse perfumada, e criavam os gansos de
maneira especial para com eles preparar Vejam aí a suposta origem do
foie gras dos franceses atuais. Também faziam algo semelhante com os frangos, que
eram alimentados com anis e outras especiarias. Enfim, grandes sofisticações,
consideradas um luxo para quem, na sua grande maioria, tinha uma alimentação baseada
somente em vegetais e frutas, como o alho, a cebola, o nabo, figos, romãs,
laranjas, peras, maçãs e uvas.
Sabe-se que
o prato cotidiano dos romanos comuns era o mingau de água com cevada, e que
tinha uma versão mais sofisticada que levava vinho e miolos de animais, essa
detalhada no livro de Apicius.
De Re
Coquinaria é, sem dúvida, uma obra histórica para a Arte Culinária e para a
humanidade como um todo.
Por último,
acho interessante citar como cheguei até o livro.
Na verdade,
foi tentando descobrir um pouco mais sobre um produto, uma espécie de condimento
universal que, sinceramente, já não sei mais como fiquei sabendo da sua
existência: refiro-me ao liquâmen ou garum. Hoje, graças ao contato com o livro
de Apicius, sei que são coisas bem diferentes.
Mas sobre
esse condimento extraordinário falarei em meu próximo texto.
Me aguardem!
Sobre o autor: André Victória da Silva é Sócio Fundador e Head de Estratégia e Inovação da Culinar, a criadora e proprietária da Tarimba na Cozinha.
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